Distúrbio do processamento auditivo central, a doença da incompreensão.
Problema afeta a capacidade de entendimento dos indivíduos. A pessoa ouve, mas não consegue interpretar os sonsMárcia Neri
Publicação: 15/05/2011 08:18 Atualização: 15/05/2011 08:23
Ivone e Valdir com Akemi, 12 anos: depois de sofrer duramente com o problema, a menina foi diagnosticada, fez acompanhamento multidisciplinar e chegou a ser condecorada na escola.
Preguiçoso, distraído, desinteressado, “enrolão”, manhoso e “diferente” foram alguns adjetivos atribuídos ao filho da professora Mônica Aviani pelas colegas de profissão que acompanhavam o garoto em sala de aula desde os primeiros anos na escola. Desesperada com a situação e suspeitando da existência de um problema por trás do comportamento da criança, Mônica procurou uma explicação médica. Suspeitas de dislexia, disgrafia e transtorno do deficit de atenção e hiperatividade (TDAH) foram levantadas. Os tratamentos para cada mal diagnosticado resultavam em algumas — poucas — melhoras no quadro, mas logo estagnava. Aos 11 anos, Emanuel Aviani Curi não conseguia ler nem escrever.
“Quem é mãe pode imaginar a minha agonia. Cansei de ouvir que meu filho era inteligente, mas não conseguia evoluir na escrita e na leitura por malandragem”, lembra. O diagnóstico correto veio depois de muita persistência: Emanuel era vítima do distúrbio do processamento auditivo central (DPAC). “Cheguei a castigá-lo. Professores e médicos que desconheciam o problema falavam que eu tinha que ser linha-dura. Foi muito triste, até encontrar uma psicopedagoga, que mostru-se fundamental para o enfrentamento da situação. Hoje, meu filho tem 13 anos, está alfabetizado e tenta recuperar o tempo perdido”, relata.
O DPAC é um problema reconhecido pela medicina há apenas 15 anos. O transtorno afeta a capacidade de compreensão do indivíduo. A pessoa detecta os sons normalmente, mas não os interpreta, é como se fossem apenas ruídos. Quando relegados à própria sorte, a alfabetização não é bem-sucedida, porque os estudantes não entendem o que o professor fala, não são capazes de escrever, interpretar textos e compreender o enunciado de problemas. No Brasil, pouquíssimos profissionais da saúde e da educação estão capacitados a lidar com o distúrbio, deixando as crianças reféns da própria incapacidade e do desconhecimento alheio.
A psicopedagoga Carla Silva, coordenadora do Núcleo de Pesquisa e Atendimento ao Aluno com Diagnóstico de DPAC do Centro de Apoio ao Surdo (CAS) do Distrito Federal, profissional que socorreu Mônica, é uma das poucas no país dedicada a reabilitar estudantes com o problema. “Iguais ao Emanuel, existem muitas crianças. Quando chegam ao CAS, a maioria passa por um diagnóstico errado, inclusive de deficiência mental. É uma tristeza, porque são meninos e meninas inteligentes e completamente reabilitáveis”, observa.
Segundo Carla, os principais sintomas do DPAC são a dificuldade de memória de curto prazo, falta de entendimento, pouca concentração e incapacidade de leitura e escrita. Passando por um processo de reeducação, no entanto, os estudantes desenvolvem rotas alternativas de aprendizado. A demora no diagnóstico pode gerar comorbidades, como dislexia, TDAH e distúrbio do deficit de atenção — justamente as suspeitas levantadas para a situação de Emanuel. “A abordagem multidisciplinar permite que o paciente aprenda a desenvolver mecanismos diferentes e rotas alternativas para driblar seu distúrbio, o que não ocorre com os outros problemas. O tempo de reabilitação, assim como a gravidade do DPAC, é variável”, sustenta Carla.
Ele não conseguia copiar, emendava palavras, não lia e não acompanhava a turma. Eu ia conversar com as professoras e elas achavam que ele tinha preguiça, que uma hora ia deslanchar. Isso não ocorreu antes do diagnóstico e da reabilitação%u201D
Cristina Gonçalves dos Anjos, mãe de Lucas, hoje com 9 anos e em pleno tratamento de reabilitação
Ouvido saudável
O problema dos pacientes com DPAC não é no ouvido, mas no sistema nervoso central. O processamento do estímulo sonoro não é feito corretamente e a decodificação é lenta. “O papel do professor é fundamental. O aluno com DPAC precisa sentar-se na frente. O professor deve articular devagar com esse estudante, falar olhando para ele. Quando isso não ocorre, a criança fica dispersa ou hiperativa, torna-se um problema para a turma”, alerta Carla Silva.
As crianças com DPAC sofrem tanto que a autoestima delas fica completamente afetada. A garotada se sente incapaz perante os colegas. O pequeno Lucas Gonçalves Ramos, 9 anos, também teve dificuldade desde que entrou na escola. “Ele não conseguia copiar, emendava palavras, não lia e não acompanhava a turma. Eu ia conversar com as professoras e elas achavam que ele tinha preguiça, que uma hora ia deslanchar. Isso não ocorreu antes do diagnóstico (aos 8 anos) e da reabilitação”, lamenta a mãe do menino, a dona de casa Cristina Gonçalves dos Anjos. “Lucas chorava, se escondia e ficou um ano sem ir à escola. Persisti, procurei clínicas particulares, porque, se fosse esperar atendimento público, meu filho estaria sem diagnóstico até hoje. Embora atrasado em relação à idade escolar, ele está superando o problema graças ao tratamento e ao acompanhamento psicopedagógico”, considera.
Os mesmos dissabores de Lucas foram vivenciados por Akemi Yokozawa Vasco, 12 anos. “Ficamos completamente perdidos, buscando respostas que demoraram a vir. Minha filha foi diagnosticada com deficit de atenção. Tomou medicamentos fortíssimos por cinco anos e nunca melhorou, porque esse não era o seu problema”, lamenta o empresário Valdir Cordeiro Vasco. Akemi não conseguia copiar nada durante a aula. Para levar as tarefas feitas, a mãe precisava ligar para outras mães e resgatar o que ela perdera.
Os professores não entendiam o que se passava, porque reconheciam em Akemi uma aluna esforçada. Muitos pais também têm dificuldade e preconceito em aceitar que o filho é vítima de distúrbio de aprendizagem. “Nós não desistimos e enfrentamos. Ela chegou a questionar a própria existência. Depois que passou pelo acompanhamento multidisciplinar, seguiu em frente e já recebeu alta. Akemi foi até condecorada na escola por seu desempenho e esforço”, conta Ivone Yokozawa, mãe da menina.
Hipóteses
A neuropsicóloga Ana Fonseca explica que não se sabe ao certo como o DPAC é desencadeado. Uma corrente de pesquisadores acredita que infecções do ouvido médio (que impedem o cérebro de receber adequadamente os estímulos sonoros); lesões nas vias de condução; doenças neurodegenerativas; males como rubéola, sífilis e toxoplasmose; ou mesmo alcoolismo e dependência química materna podem promover o transtorno. Nada, contudo, ainda foi provado cientificamente. “Não acredito que seja um distúrbio adquirido. Acho que o bebê já nasce com DPAC. O diagnóstico é consolidado pela fonoaulogia com testes especiais que descartam outros problemas. Não há exames de imagem que aponte danos nos neurônios, por exemplo. A avaliação do neuropsicólogo, entretanto, é fundamental para a indicação do tratamento”, avalia Ana, especialista pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
A neuropsicóloga pondera que não se pode falar em cura, mas lembra que o cérebro é um órgão com capacidade plástica impressionante, que se molda a novos estímulos. “Exatamente por isso, a terapia multidisciplinar pode reabilitar o paciente totalmente, proporcionando uma vida normal ao estudante, mas para isso é preciso um trabalho em equipe com fonoaudiólogo, neuropediatra, neuropsicólogo e psicopedagogo”, especifica.
A fonoaudióloga Lana Bianchi explica que a alteração no processo auditivo central descaracteriza a qualidade do som. Como consequência, a criança que está em processo de aquisição de aprendizagem sucumbe a essa dificuldade. “O neuropediatra faz uma investigação cerebral, a psicóloga, a avaliação mental e o fonoaudiólogo, todos os testes de audição e do processamento auditivo. Nós reabilitamos as habilidades auditivas. O psicopedagogo ensina a criança a usar o que foi reabilitado”, aponta.
Formação de profissionais
É uma unidade da Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação do Distrito Federal (Eape), criada em 1997 para promover a formação continuada de professores e pedagogos da rede pública de ensino. Além de oferecer aprendizagem da linguagem específica e currículo para necessidades especiais, o CAS também oferece atividades que propiciam a inclusão, interação social e desenvolvimento psicossocial. Os profissionais ligados ao CAS foram pioneiros em lidar com crianças vítimas do DPAC no DF. Pela Eape, eles produzem material didático para esses estudantes e treinamento para pedagogos que se interessam pelo assunto
FONTE DE PESQUISA: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ciencia-e-saude/2011/05/15/interna_ciencia_saude,252293/disturbio-do-processamento-auditivo-central-a-doenca-da-incompreensao.shtml
9 comentários:
Oi foi a 3ª vez que encontrei o teu blogue e gostei imenso!Espectacular Projecto!
Cumps
oi moro no sul do brasil tenho um filho de 16 anos que tem desordem de proessamento auditivo estoupreocupada ele pode perder o ano o que v acha
Bom dia,adorei o seu blog .Moro em Curitiba/Pr,tenho uma filha de 7 anos esta na segunda série , ela foi diagnosticada com desordem do processamento auditivo,o teste do processamento auditivo deu (100% OD ),(75% OE) ,ela tem dificuldade de escrita,números,e leitura.Peço se possível se a dr. souber de algum especialista aqui nem Curitiba que possa me ajudar e que entenda sobre o processamento auditivo,por gentileza me fornecer via e-mail.
elianegrochoski@hotmail.com
oBRIGADA PELAS VALIOSAS INFORMAÇÕES QUE AJUDARAM-ME A ENTENDER A DPAC .Realizei uma avaliação ( PSI, SSW, DICÓTICO DE DÍGITOS E T.PADRÃO DE FREQ) com minha filha de 9 anos e existe HÁ A NECESSIDADE DE TERAPIA PARA ATENÇÃO SELETIVA E FIGURA FUNDO, E OS RESULTADOS SUGERIRAM DESORDEM DO PROC.AUD.PARA DECODIFICAÇÃO E ASSOSSIAÇÃO.Esse tipo de terapia o plano de saúde não cobre e não sei onde encontrar profissional qualificado aqui em Curitiba-PR visto que ,irei investir financeiramente nesta terapia, por favor me ajude sou professora e farei o que for...ler livros, aprender os exercícios para praticar com ela....enfim existe um livro que eu possa me interar das atividades propostas para desenvolver tais habilidades para ajudar minha filha? pensei até em pedir ajuda das universidades da UTP E PUC que devem ter um programa de serviços a comunidade com os estudadntes da área. Espero anciosa uma atenção sua , obrigada Cristiane
oBRIGADA PELAS VALIOSAS INFORMAÇÕES QUE AJUDARAM-ME A ENTENDER A DPAC .Realizei uma avaliação ( PSI, SSW, DICÓTICO DE DÍGITOS E T.PADRÃO DE FREQ) com minha filha de 9 anos e existe HÁ A NECESSIDADE DE TERAPIA PARA ATENÇÃO SELETIVA E FIGURA FUNDO, E OS RESULTADOS SUGERIRAM DESORDEM DO PROC.AUD.PARA DECODIFICAÇÃO E ASSOSSIAÇÃO.Esse tipo de terapia o plano de saúde não cobre e não sei onde encontrar profissional qualificado aqui em Curitiba-PR visto que ,irei investir financeiramente nesta terapia, por favor me ajude sou professora e farei o que for...ler livros, aprender os exercícios para praticar com ela....enfim existe um livro que eu possa me interar das atividades propostas para desenvolver tais habilidades para ajudar minha filha? pensei até em pedir ajuda das universidades da UTP E PUC que devem ter um programa de serviços a comunidade com os estudadntes da área. Espero anciosa uma atenção sua , obrigada Cristiane (barufficris@hotmail.com)
Somente quem passa por algo semelhante, sabe a dor e a solidão que isto causa.
O meu filho, hoje com 9 anos, passou um ano fazendo terapia de transtorno auditivo, até que o diagnostico final foi de deficiencia auditiva moderada. Porém antes de tudo isto, ouvir uma infinidade de coisas distintas das escolas e profissionais de saúde.
É preciso que professores e profissionais de saúde tenham na sua formação cadeiras que tratem de problemas que não são tão obvios, pois somente assim vão polpar pais e alunos de tanto sofrimento desnecessario.
Angela Pereira
Boa Tarde,
Sou mãe de um rapaz com 16 anos que foi diagnosticado TDHA anteriormente nos primeiros anos do ens. funfamental.
Agora quando está quase no final do ensino médio mandaram realizar outros exames e diagnosticaram DPAc.
Gostaria de saber se tanto faz TDhA ou DPAC, fico preocupado quando ele for trabalhar , tem algum direito que firmas ou empresas devem respeitar, pois tem muitos chefes que não repetem as ordens muitas vezes. obrigada.
Ai gente passei e ainda passo por isto tudo, tem vezes que da ate vontade de nao levar mais pra escola, de pagar professor pra vir em casa, mas dai como fica a sociabilidade de nossos filhos? Meu ex marido nao a ceita , diz que a louca sou eu. minha filha nao tomou medicamaentos tipo ritalina porque nao quis dar, ela usa florais e ela fala que esta feliz quando usa, mas so parar ela começa ficar depressiva . Agora o pai pediu a guarda pro juiz porque fala que sou louca e invento doença pra tirar grana dele. Sabe quem ele é PHD da UFG da Jataí ve se pode uma coisa destas e como se ter problema de aprendizagem fosse doença, o filho mais velho dele é mais serio ainda, coitado passa por cada coisa igual ou pior do que vcs relatam, porque a mae dele é uma coitda que nao le sobre isto, eu que sou formada em geografia passo por isto imaginem uma pessoal sem formação escolar. Idelina Jataí Goias
Ai gente passei e ainda passo por isto tudo, tem vezes que da ate vontade de nao levar mais pra escola, de pagar professor pra vir em casa, mas dai como fica a sociabilidade de nossos filhos? Meu ex marido nao a ceita , diz que a louca sou eu. minha filha nao tomou medicamaentos tipo ritalina porque nao quis dar, ela usa florais e ela fala que esta feliz quando usa, mas so parar ela começa ficar depressiva . Agora o pai pediu a guarda pro juiz porque fala que sou louca e invento doença pra tirar grana dele. Sabe quem ele é PHD da UFG da Jataí ve se pode uma coisa destas e como se ter problema de aprendizagem fosse doença, o filho mais velho dele é mais serio ainda, coitado passa por cada coisa igual ou pior do que vcs relatam, porque a mae dele é uma coitda que nao le sobre isto, eu que sou formada em geografia passo por isto imaginem uma pessoal sem formação escolar. Idelina Jataí Goias
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