Fátima Magnata
Profª.da Rede pública/PE
mfmag@terra.com.br
23, Novembro/2001
Dislexia , mesmo ao longo desses cem anos de pesquisas, aproximadamente, tem sido deixada à margem das salas de aula. Crianças sadias têm sido alvo constante. Falhos processos de avaliação, erros de interpretação, conceitos mal formados ou pré-concebidos a respeito dessa dificuldade, induzem fatalmente a um falso diagnóstico, ou seja, suas dificuldades escolares são simplesmente um indício de baixa capacidade intelectual.
Muitos disléxicos, em determinadas atividades, conseguem obter uma performance superior à média do seu grupo etário (na música, desenho, pintura, eletrônica, mecânica, na engenharia, nos esportes...)
Alguns estudos mostram que, dentre os inúmeros conceitos existentes, a dislexia é uma desordem na maneira pela qual o cérebro processa a informação... É uma disfunção neurológica... É enfim, uma combinação de habilidades e dificuldades.O quadro estatístico mundial afirma que cerca de 15% a 30% das crianças em idade escolar, apresentam dificuldades de aprendizagem, e desse quadro 10% são disléxicas. Atinge de quatro a cinco meninos para cada menina.
É muito freqüente que pessoas disléxicas apresentem déficit no domínio da ação, da motricidade, da organização têmporo-espacial, da capacidade de globalização no domínio do esquema corporal, na dominância lateral.
A má estruturação do espaço nessas pessoas manifesta-se em princípio, nas dificuldades em situar as diversas partes do seu corpo, umas em relação às outras. As noções de alto, baixo, em frente, atrás e, sobretudo, direita e esquerda são confundidas, o que no domínio da leitura, provoca confusão entre certas letras como p-q, b-d, u-n, p-b, dentre outras. Cada letra é percebida, dependendo do sentido de deslocamento do seu olhar (esquerda-direita e vice-versa). O olhar das pessoas disléxicas não segue forçosamente a direção esquerda-direita, muda de direção várias vezes em apenas alguns segundos. Se a criança não se situa no espaço bidimensional, é normal que encontre dificuldades e faça confusão inclusive na análise da direita e da esquerda do mundo exterior.
É importante esclarecer que a maioria das crianças pode confundir "direita e esquerda" até os sete anos, aproximadamente.
As causas da Dislexia não são ainda tão claras, mas os resultados são cada vez mais evidentes em nossas bancas escolares, produzindo pesadelo àqueles, com Dificuldades de Aprendizagem, que ultrapassam os portões para dentro da Escola. Entretanto, não se pode chamar de "dislexia" toda e qualquer "dificuldade" ligada à leitura e/ou a escrita, bem como as Dificuldades de Aprendizagem que podem ter por base problemas emocionais, algum déficit auditivo (exame do processamento auditivo central), um déficit visual ( teste de ortóptica ), ou uma inadaptação ao método pedagógico, e/ou ainda possíveis falhas no processo de alfabetização, causadas por má prática pedagógica, ou seja, pela má formação do professor.
"É importante saber que a dislexia ocorre independente do fator socioeconômico, cultural ou intelectual". Mas, seus efeitos vão além do seu corpo e de sua inteligência... Afetam seus sentimentos, seus familiares, seus amigos, seus ideais de vida... Desorganiza e destrói toda a sua estrutura física e humana!
Ao sofrer constantes discriminações, essas crianças perdem a confiança em si própria, o que gera uma baixa auto-estima. Talvez este seja o maior e o mais comum dos problemas emocionais, que a criança disléxica enfrenta para desenvolver-se satisfatoriamente, desencadeando frustrações, preconceitos e sentimentos de incapacidade, que pode levar ainda ao surgimento de algumas "fobias" específicas. São extremamente carentes de afeto, compreensão e cuidados. Possuem dificuldades para expressar os seus pensamentos e para entender também, o pensamento do outro. Apresentam uma inabilidade em seguir seqüências, de observação/atenção para detalhes e, de organização interna para absorver informações recebidas seja por meio de palestras, demonstrações, ou mesmo a leitura de sala de aula.
Às vezes não conseguem direcionar sua atenção para um único tópico, distraem-se facilmente ao prestar atenção em várias coisas ao mesmo tempo, o que chamamos de "atenção difusa". Podem, na maioria das vezes, apresentar um comportamento impulsivo: agem antes de pensar, sem medir as conseqüências. Planejam e decidem mal, com isso muitas vezes suas ações são perigosas. Isso não quer dizer que sejam necessariamente hiperativas, são apenas crianças "desatentas e impulsivas". Crianças hiperativas são sempre agitadas, não conseguem ficar sentadas, quietas. Revelam algum movimento contínuo das pernas, dos pés, dos braços, das mãos, dos lábios ou até da língua. Naturalmente, certas pessoas, em certos momentos, inclusive alguns disléxicos, apresentam essas características.
Há também a falta de atenção causada por uma condição da "Desordem do Déficit de Atenção" que já é um outro problema e também afeta a aprendizagem.
A compreensão de tais problemas nos obriga a direcionar e reestruturar a Escola trabalhando mais seu espaço, afim de melhor atender a todos, indistintamente, que apresentem dificuldades em sua aprendizagem. "O medo de falhar", muitas vezes, pode deixá-las tímida e fazê-la retroceder para evitar situações ameaçadoras. Podem também se tornar, exatamente ao contrário, "atrevidas/ousadas", na tentativa de esconder dos outros suas verdadeiras dificuldades acadêmicas dentro das salas de aula.
Às vezes por serem conduzidas a situações embaraçosas e conflitantes podem tornar-se agressivas, furiosas e/ou resistentes. Podem também ser consideradas preguiçosas, desmotivadas...Ou motivadas, dependendo apenas da forma com que as pessoas trabalhem ou se relacionem com elas. Todos estes comportamentos são "normais" tentativas de "ocultar" as suas dificuldades e disfarçar sua baixa auto-estima. Diante dessas evidências, devemos ficar alerta aos primeiros sinais, tanto em casa quanto na escola. Faço aqui alguns questionamentos:
Em quais momento as "dificuldades de aprendizagem" se transformam em Transtornos p/ o Disléxico?
"Observando que torna-se um transtorno tudo aquilo que traz a alguém uma má qualidade de vida, ou que impeça seu desenvolvimento emocional, afetivo e social;enfim, tudo que traz desordem ao meio social."
- E onde começa todo esse problema?
Gostaria de esclarecer antes de tudo, que Dislexia não é doença, é uma condição natural de vida, pessoas nascem disléxicas, e como condição, deve ter seu espaço respeitado e reconhecido no nosso atual Sistema Educacional. Segundo algumas pesquisas existe uma carga genética que explica o "ser disléxico", há uma incidência maior em certas famílias.
Quanto às questões eu, particularmente, diria que os problemas se acentuam, através da Má Formação dos profissionais nas universidades, e culminam com a Má Informação dos pais e dos educadores nas instituições educacionais de um modo geral. Os pais e os educadores, por desconhecerem as causas da falta de "motivação", do "desinteresse" e da "falta da compreensão nas diversas leituras" do aluno, da sua "lentidão", perdem a paciência e fazem um julgamento incorreto e precipitado a respeito dessa situação. Os Pais passam a condenar a escola cobrando respostas e resultados imediatos, e a Escola, por sua vez, acusa os pais de negligência, omissão e/ou conivência... A partir desse momento, as discriminações e os rótulos começam a surgir dando origem a uma seqüência de bloqueios, que marcam e transformam em sérios transtornos a vida desses alunos, tenham eles Dislexia ou Distúrbios de leitura e escrita! A Escola por não estar preparada ainda, passa a ser um lugar de acúmulo de FRUSTRAÇÕES para eles, que temem as perguntas e os comentários desagradáveis à sua pessoa, tanto por parte de professores e funcionários, quanto pelos demais colegas. Isso somado a desinformação, torna a questão ainda mais grave no Brasil. É uma forma de EXCLUSÃO (DES) HUMANA!
É hora de se rever os papéis de TODOS na Educação Brasileira. Pois, se nas escolas não encontramos profissionais com "boa formação" para educar com qualidade, eficiência e respeito, capazes de identificar, compreender e trabalhar as Dificuldades de Aprendizagem dentro da própria escola é porque alguém não está exercendo bem seu papel, nem sua função.
O que estará acontecendo com as nossas Instituições Formadoras?
De quem é a "responsabilidade" de "Informar e Preparar" de forma satisfatória, todoprofessor/educador para as dificuldades existentes na aprendizagem? Preparar para ensinar àqueles que já aprenderiam sem nenhum problema, já faz parte de um programa de formação mínima.
É claro que investimentos "unicamente", na qualificação do professor, não resolvem, de imediato, todos os problemas na Educação, mas por certo, minimizará o sofrimento daqueles que são discriminados, dia após dia, em nossas salas de aula.
Contudo, não é justo "responsabilizar" tão somente os "Educadores" dos diversos seguimentos de ensino, por todos os resultados negativos, sem levar em conta, a falta das condições básicas de trabalho e de uma maior e melhor valorização da profissão de EDUCADOR.
Acredito, porém, que só uma "Grande Mudança" na grade curricular dos Cursos de Formação, poderá resgatar a verdadeira essência do Ser Educador, se, e somente se, as inúmeras dificuldades existentes no Sistema Educacional, entre elas a Dislexia... deixarem de ser ignoradas pelo Ser Mestre... pelo Ser HUMANO... na Educação Brasileira.
O professor, frente aos novos desafios, deverá ser mais bem preparado por meio de capacitações, como também ser incentivado a pesquisar, para que na prática possam enfrentar as possíveis situações-problema, com competência necessária para reconhecer as prováveis Dificuldades de Aprendizagem, desenvolvidas dentro e/ou fora da escola, para que dessa forma, possam ajudar tanto aos aprendentes, em suas necessidades escolares, quanto aos seus familiares, garantindo-lhes o direito a informação e ao apoio, indispensáveis ao bom desenvolvimento das relações familiares, assim como a orientação e o encaminhamento aos locais com atendimento especializado, quando necessário.
Durante todo esse processo... Aprendi que... "mais do que avaliar provas e dar notas, é preciso ouvir os apelos silenciosos que ecoam na alma do educando...".
É preciso saber interpretar gestos e olhares!
Deixo aqui, meu pedido de desculpas a todos, que de alguma forma, não foram "compreendidos e/ou aceitos" no nosso sistema educacional, e abandonaram as salas de aula, levando consigo a frustração
de sua única condição:
"SER HUMANO que aprende diferente!".
Fátima Magnata
mfmag@terra.com.br
Profª.da Rede pública/PE.
FONTE DE PESQUISA:
http://www.dominiofeminino.com.br/artigos_tematicos/hps/profs_dislexia.htm
SEU FILHO ESTA DESMOTIVADO??
-
Como eram os seus momentos dedicados à lição de casa junto de seus
pais?Entediantes, cansativos ou, pior, uma sessão de tortura?
Essa situação não precisa ...
Há 7 anos
3 comentários:
Excelente este artigo. Trabalho como psicopedagoga clinica e tb atuo em escola publica, no periodo matutino, como alfabetizadora. Percebo o qto ainda estão depreparados os educadores no que se refere a dislexia. Apesar de tantas fontes de informação ainda encontramos professores que não acreditam na dislexia, preferindo rotular seus alunos de incapazes, deixando que investir no potencial que todo dislexico tem. Uma pena...
Esse artigo é sumamente rico em
conteúdo !
Merecia a leitura,por parte de
muitos profissionais ou melhor dos principais gestores de educa
ção,para que se voltem mais para um assunto tão importante e,se sensibilizem-assim como a autora deste artigo-o que é algo muito importante para enxergar melhor as dificuldades enfrentadas porquem passa por esses "limites"!
Hi everyone! I do not know where to begin but hope this place will be useful for me.
Hope to get any help from you if I will have any quesitons.
Thanks and good luck everyone! ;)
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