Londrina, 05 de Setembro de 2008. ANO V. Edição nº 150
REPORTAGEM:
TIAGO RAFAEL, 6° SEMESTRE NOTURNO
A dislexia é um distúrbio caracterizado pela dificuldade na decodificação das palavras, leitura e oratória fluente. Ao contrário do que muitos pensam a disfunção não é um problema de ordem visual e sim uma baixa capacidade de formação da fala e escrita no cérebro. Estudos divulgados pela Associação Brasileira de Disléxicos (ABD) revelam que de 10 a 15% da população mundial é disléxica.
Pessoas desinformadas sobre o assunto relacionam as dificuldades dessas pessoas com desatenção, desmotivação, condição sócio-econômica ou baixa inteligência. Porém, para os especialistas, o problema é genético e hereditário. Apesar de ter outros talentos, o indivíduo com dislexia apresenta dificuldades para ler, escrever, incapacidade para decorar e copiar textos longos.
Na fase escolar o desempenho nas avaliações não é bom. Mesmo com perfeita audição e visão, o aluno com o distúrbio constrói um currículo acadêmico de fracasso. Na grande parte, a dislexia se manifesta no período da alfabetização, porém, existe uma parcela que descobre a disfunção apenas na fase adulta.
Embora haja tratamento, a dislexia não tem cura, já que não é considerada uma doença. No entanto, um fato que agrava a análise clínica é a dificuldade de diagnosticar o distúrbio. De acordo com o professor de Psicologia e especialista em dislexia, Vicente Martins, para descobrir o transtorno, é necessário uma equipe formada por psicólogo, psicopedagogo, fonoaudiólogo e neurologista.
Para amenizar os desgastes causados pela disfunção, o psicólogo sugeriu que esses quatro profissionais trabalhem juntos. "A dislexia pode se dividir em quatro gêneros e para cada caso se usa um tratamento diferente: intervenções pedagógicas, quando as dificuldades decorrem de métodos de ensino; neurológicas, quando motivadas por questões de déficit de memória, tendo acompanhamento do neurologista cognitivista; ajuda fonoaudiólogica, quando tiver relação direta na articulação dos sons da fala; trabalho psicológico, quando o agravante parte de ordem motivacional", explicou Martins.
Por ser semelhante a outros tipos de disfunções que resultam no déficit de aprendizado, a vítima do transtorno pode passar anos sofrendo sozinha e calada. Prova disto foi o caso da psicopedagoga Elizabete Rodrigues, 48 anos (foto abaixo), do Distrito Federal. Ela recebeu o diagnóstico há três anos. "Descobri que tinha dislexia apenas em 2005 quando estava concluindo meu TCC sobre problemas de aprendizagem. Até então, sofria calada e sozinha. Só tive consciência do que acontecia comigo quando meu emocional já estava totalmente comprometido", disse em entrevista ao ComTexto, por e-mail.
A profissional da educação afirmou que viveu a vida inteira com medo, envergonhada pelos erros ortográficos e a total incapacidade de escrever ao mesmo tempo em que outra pessoa falava. "Por toda minha vida, fui disfarçando meus erros para conseguir viver em um mundo letrado! Até que um dia não agüentei o estresse e resolvi buscar ajuda médica."
Elizabete disse que sentiu na pele como os profissionais estãodespreparados para diagnosticar um paciente portador de dislexia. "Cada profissional que eu procurei chegou a um diagnóstico diferente. O psiquiatra dizia que eu estava com depressão e ansiedade. A psicóloga afirmava hiperatividade. Para o reumatologista, era fibromialgia e estresse devido a minha incessante busca pela perfeição. O resultado foi que nenhum deles chegou a um diagnóstico claro", concluiu.
Na busca de melhorias para seu corpo e mente, Elizabete recorreu à medicina alternativa onde começou a praticar relaxamento e meditação. Em vão. Nenhuma dessas práticas resolveu o seu problema. À medida que o tempo passava, ela adquiriu outros agravantes. Gagueira, labirintite, refluxo, problemas na visão e esclerose múltipla foram alguns dos sintomas desencadeados pela dislexia.
Paralelo aos problemas de saúde, Elizabete tinha que cuidar dos filhos adolescentes, trabalhar, estudar e o mais triste: ajudar a mãe que estava com câncer. "Sem saber o que acontecia comigo, não deixei de lutar contra as dificuldades. Quando estava redigindo o meu TCC sobre os erros ortográficos e a visão dos professores diante deste quadro, entrei por acaso no site da Associação Brasileira de Dislexia e achei a explicação."
Elizabete afirmou que quando encontrou a causa da dificuldade que a angustiava se sentiu mais leve por entender o problema. "No momento em que descobri que tinha dislexia, achei a resposta para a minha incapacidade de ler e escrever. Todos os erros que eu cometia agora teriam uma explicação. A única coisa que me restava era revelar o meu maior segredo", ressaltou.
Mas, confessar aos 45 anos que tinha dislexia não foi uma tarefa fácil. Após lecionar para a rede de ensino, estar na conclusão da graduação e ter passado em um concurso público, ninguém acreditou que Elizabete sofria do transtorno. "As coisas não foram tão fáceis do jeito que eu imaginava. Os profissionais que cuidavam da minha saúde duvidaram da minha verdade. Todos pensavam que eu estava louca ou era mentirosa. Questionavam como eu tinha chegado até aquela graduação sendo disléxica. Achavam impossível eu ter aprendido a ler e escrever."
Para provar que realmente era disléxica, Elizabete teve que juntar dinheiro para viajar a São Paulo onde encontrou profissionais que confirmaram o diagnóstico. "Na sociedade existem muitos preconceitos e se recusar a aceitar o diferente é natural do ser humano", esclareceu.
Os sonhos da pedagoga não foram interrompidos pelo distúrbio. Mesmo com dificuldades, ela concluiu a graduação, se tornou professora alfabetizadora, fez pós-graduação em psicopedagogia e, atualmente, se prepara para mais uma especialização em neuropedagogia. Elizabete foi afastada do cargo de professora pelo governo do Distrito Federal por ser considerada incapaz de lecionar. Mesmo com o preconceito e dificuldades, a brasiliense não parou sua trajetória.
Fonte de pesquisa:
http://www13.unopar.br/unopar/publicacao/manchete.action?m=4030
SEU FILHO ESTA DESMOTIVADO??
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Como eram os seus momentos dedicados à lição de casa junto de seus
pais?Entediantes, cansativos ou, pior, uma sessão de tortura?
Essa situação não precisa ...
Há 7 anos
Um comentário:
Gostei do seu blog... tbm tenho dislexia, não é nada fácil!
Estou "linkando" seu blog no meu...
bjs
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