A mestre em educação Sônia Moojen vai falar sobre o ensino da ortografia na escola e na clínica, com foco nos transtornos da disortografia neste sábado, no Leblon. Sônia trará conteúdos que visam ampliar o conhecimento teórico sobre as formas de apropriação dos processos de escrita e, assim, desenvolver atividades práticas para a apropriação e automatização da ortografia.
A palestra é no Centro Integrado de Diagnóstico, no auditório do terceiro andar, de 9h às 17h. Telefone: 2235-4293.
Entrevista com: Dra. Sônia Moojen
Andrea Racy e Patricia Vieira
1- Fale-nos a respeito de sua formação profissional e suas atividades atuais.
Sou fonoaudióloga pelo Decreto nº 87.218/1982, graduada em Pedagogia pela UFRGS em 1967 e Mestre em Educação: área de concentração Psicologia Educacional pela FACED/UFRGS. A título de curiosidade, a tese defendida na conclusão do mestrado, em 1976, teve como título Avaliação de Sintomas das Dificuldades de Aprendizagem em crianças de 1ª, 2ª e 3ª séries do 1º grau de quatro classes socioeconômicas. Na ocasião, investiguei 1384 alunos a partir de depoimentos de seus professores em busca de dados sobre a incidência de crianças do 1º grau com dificuldades de aprendizagem, a compreensão desse tipo de problema por parte do professor, bem como a identificação das providências tomadas em nível escolar naquela época. Também relacionei dados referentes à classe social e ao sexo.
O Curso de Especialização em Psicopedagogia Terapêutica foi feito em 1972-1973, na Clínica Médico-Pedagógica de Porto Alegre, sob a coordenação do Dr. Nilo Fichtner.
Em 1974-1975, coordenei, junto com Dr. Nilo, o 1º curso de Especialização em Psicopedagogia Terapêutica, feito em universidade no Brasil. O curso foi desenvolvido na Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e tinha 1200 horas. Na mesma Faculdade, lecionei, entre os anos de 1969 e 1992, as disciplinas de Psicopedagogia Terapêutica I e II; Didática I e II; Prática de Ensino do Curso de Pedagogia; Técnicas do Exame Psicopedagógico e Bases Sociais e Psicopedagógicas da Aprendizagem.
A dislexia é um tema que me preocupa desde 1969. Naquela ocasião, a significação do termo era mais ampla que a atual, abarcando qualquer transtorno na leitura e escrita. O 1º disléxico que encontrei na minha carreira foi atendido em 1969 e reavaliado recentemente em pesquisa longitudinal.
Quanto à minha atuação no momento, trabalho em consultório fonoaudiológico e psicopedagógico desde 1969. Iniciei essa atividade a partir de cursos e da observação do trabalho da equipe do Dr. Julio Bernaldo de Quirós, na Argentina.
Acompanhei, durante todos esses anos, as diversas teorias e práticas relacionadas à dislexia. Mesmo assim somente em 2000 encontrei maior identidade do meu trabalho com as idéias e as pesquisas de professores Emílio Sanchez Miguel, Mercedes Rueda e Jesus Martins, da Universidade de Salamanca. Desde essa data, estudo periodicamente com esses professores, observando atividades clínicas e, particularmente, estudos de investigação em dislexia.
Atualmente, aposentada pela UFRGS, leciono a disciplina de Diagnóstico e Tratamento das Dificuldades/Transtornos de Aprendizagem em cursos de especialização em Santa Maria, Erechim e Frederico Westphalen. Em Santa Maria também coordeno o estágio supervisionado.
Tenho o privilégio de ser membro consultor de duas Sociedades de Dislexia: a do Rio de Janeiro e a de Porto Alegre.
Desenvolvo algumas pesquisas na área psicopedagógica que serão mais detalhadas em resposta à última pergunta.
2- O que é dislexia?
A dislexia é um transtorno específico nas operações implicadas no reconhecimento das palavras que compromete, em maior ou menor grau, a compreensão da leitura. Possui uma moderada evidência de origem genética, e afeta um subconjunto, claramente minoritário, de alunos com problemas na aprendizagem da leitura e da escrita.
Considero a dislexia um Transtorno de Aprendizagem da Leitura e Escrita em nível severo, em sujeitos com capacidade intelectual normal.
3- Quais as características apresentadas por um indivíduo para poder diagnosticar dislexia?
O disléxico apresenta necessariamente dificuldades nas habilidades nucleares, quais sejam reconhecimento de palavras (falta de precisão e rapidez), reconhecimento de pseudopalavras e escrita ortográfica. Também são muito freqüentes dificuldades em habilidades associadas, como compreensão leitora, erros ortográficos e redação de texto.
Tais dificuldades estão presentes em sujeitos que tiveram escolarização adequada, visão e audição normal ou corrigida e não são portadores de problemas psíquicos ou neurológicos graves (que justifiquem, por si só, as dificuldades escolares). Normalmente estão atrasados na leitura e na escrita, com relação a seus pares, em dois anos, no mínimo, (se a criança tem mais de 10 anos) e um ano e meio (se tem menos dessa idade). Essa consideração é importante e condiciona a época de diagnóstico: após o final de 2ª série ou início de 3ª.
Outra característica definitiva é a persistência do problema apesar de tratamento adequado, tornando o prognóstico reservado.
4- Quais os instrumentos utilizados na área da psicopedagogia clínica para diagnosticar um disléxico?
Indicamos os seguintes procedimentos básicos para uso do psicopedagogo:
a) Anamnese com pais ou cuidadores, com a finalidade de obter informações sobre a história da criança. É preciso verificar também se a experiência educativa foi normal, descartar problemas auditivos ou visuais, bem como verificar a ocorrência de problemas semelhantes em familiares.
b) Testes de leitura
Utilizamos um teste de decodificação de sílabas, palavras e pseudopalavras onde se observa o uso das vias de reconhecimento, a velocidade, a presença de substituições, omissões, inversões, transposições, adições e retificações.
A observação da leitura (silenciosa e oral) de textos visa analisar estratégias de reconhecimento de palavras e de compreensão, velocidade, nível de esforço, tipos de erros, ritmo e expressão, aproximação texto-olhos, movimentos de olhos e cabeça, sentimentos expressos antes, durante e depois da leitura.
c) Testes de escrita
Para avaliar a escrita aplico um ditado balanceado e padronizado e um ditado de texto, acompanhado de análise quantitativa e qualitativa dos erros, vacilações, re-escritas, sentimentos expressos. Também analiso a produção textual espontânea ou semi-dirigida para avaliar a coerência, coesão, uso de pontuação, concordância nominal e verbal, ortografia, etc.
Muitas vezes é útil a análise de uma cópia de texto (máximo 5 minutos) para observar distância texto-olhos, porções copiadas, velocidade, tipos de erros, qualidade do grafismo, postura, etc
d) Teste de Consciência Fonológica – CONFIAS (Moojen e colab., 2003) um instrumento de avaliação seqüencial das habilidades metafonológicas.
O estudo do disléxico deverá ser complementado por uma análise minuciosa do material escolar e das fichas de avaliação, desde o início de sua vida escolar.
O psicopedagogo que não aprofundou estudos na área da linguagem necessita do auxílio de um fonoaudiólogo para complementar a avaliação com testes de vocabulário e de fluência verbal e, particularmente, a testagem de processamento auditivo que é de competência da fonoaudiologia.
5- Um indivíduo disléxico pode superar a dificuldade de aprendizagem ou necessitará de um acompanhamento constante?
Como já foi referido anteriormente, a dislexia tem um prognóstico reservado, o que a torna um problema persistente. Os disléxicos não automatizam plenamente as operações relacionadas ao reconhecimento de palavras, razão pela qual despendem mais tempo e energia em tarefas de leitura. O aluno disléxico que, evidenciando alto grau de adaptação escolar, consegue entrar na universidade, apresenta dificuldades importantes na leitura de palavras não-familiares.
O tratamento do disléxico envolve um processo lento, laborioso e sujeito a recaídas, conforme sugerem os dados de estudos longitudinais de sujeitos reabilitados (Rueda e Sanchez, 1994).
Tenho entrado em contato com faculdades cursadas por pacientes disléxicos, com a concordância deles, para informar aos professores sobre as características desse transtorno, bem como para oferecer as orientações necessárias para uma adequada avaliação dos alunos disléxicos universitários.
7- No momento, quais são suas investigações e estudos nessa área?
Estou envolvida em dois tipos de investigação relacionadas às duas habilidades nucleares da leitura. A primeira diz respeito à elaboração e padronização de dois testes: um de decodificação de sílabas complexas; e outro de leitura de palavras e de pseudopalavras. A segunda investigação refere-se à elaboração de textos informativos para avaliação da compreensão leitora de alunos desde a 2ª série até a idade adulta.
A pesquisa que considero mais importante atualmente é supervisionada pelo prof. Emílio Sanchez e envolve um estudo longitudinal de 20 disléxicos atendidos desde 1968.
Sinto-me uma “eterna aprendiz” em dislexia.
SEU FILHO ESTA DESMOTIVADO??
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Como eram os seus momentos dedicados à lição de casa junto de seus
pais?Entediantes, cansativos ou, pior, uma sessão de tortura?
Essa situação não precisa ...
Há 7 anos
Um comentário:
eu tinha 15 anos quando li sobre a dislexia, e vi que tinha muito haver com migo, então passei a pesquisar mais e descobri varias coisas muito interessantes...
então eu peguei algumas dicas de como saber si vc e disléxico ou não, mais sabendo que eu deveria procurar profissionais na areia.
porem eu passei 3 anos me observando e consegue chegar em alguns resultados...
mentalmente eu tenho grande velocidade para solucionar alguns problemas entre vários assuntos.
mais na hora de transformá las em palavras é na hora em que eu mais sofro.
em todos os ditados que eu faço sempre me dou mal.
quando é para apresentar algum trabalho tbm me dou não.
para ler(eu gosto muito de ler)mentalmente eu mando super bem mais quando é para a boca pra fora as palavras fogem de mim.
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