Muitos pais desconhecem a dislexia, mas saber como acontece – e como podem tratar – esta dificuldade na área da leitura, escrita e soletração poderia ajudar de forma decisiva seus filhos. Identificada nas salas de aula durante a alfabetização – e não raro sendo o motivo para uma defasagem inicial de aprendizado – a dislexia é uma descoberta relativamente nova e passou a ser mais conhecida a partir da década de 1970.
Tenho interesse especial no tema porque um familiar descobriu já adulto que tinha esta “característica”. Como acontecia com este “menino que aprendia mais ouvindo do que lendo“, muitas razões podem acarretar limitações no processo de aprendizagem e, se não são diagnosticadas, podem representar o completo fracasso escolar com todas as suas conseqüências danosas em termos sociais, afetivos e cognitivos.
E esta forma diferente de aprender não é tão rara assim, suspeita-se que no Brasil cerca de 760 mil jovens estejam nos bancos escolares com distúrbios específicos de leitura (dislexia). São dados que vi num artigo de Jaime Zorzi, coordenador da equipe de diagnóstico multiprofissional em distúrbios de aprendizagem (e também Mestre em distúrbios da comunicação pela PUC-SP e doutor em educação pela Unicamp) que me ensinou muito recentemente.
O especialista informa que, embora não tenhamos uma noção exata da prevalência de tal tipo de problema no Brasil, existem estimativas, em outros países, de que cerca de 5% da população escolar possa ter um problema desta natureza, prejudicando o aprendizado e o domínio de uma poderosa forma de alcançar e produzir conhecimentos, que é a linguagem escrita.
Imagine 5% de uma sala de aula desmotivada e sem conseguir aprender do jeito formal? Este panorama nos mostra a necessidade encarar a dificuldade de aprendizado, como a dislexia é, como mais do que um problema de saúde, uma questão educacional e social.
A dislexia significa um distúrbio no aprendizado da leitura. E aprender a ler e a escrever são habilidades que envolvem conhecimentos que a criança vai desenvolvendo desde muito cedo, pois antes de aprender a escrever as crianças, de modo geral, já apresentam um domínio significativo da linguagem falada. “Neste sentido, devemos sempre nos preocupar com aquelas crianças que, desde muito cedo, vêm apresentando alguma alteração na aquisição da linguagem falada, como é o caso dos atrasos de desenvolvimento da linguagem, as limitações de vocabulário, as dificuldades de compreensão, de manutenção de diálogos, de organização do discurso, de fala, e assim por diante”, afirma Jaime Zorzi.
Segundo ele, outros indicadores podem ser as limitações para lidar com rimas, com sílabas, com a discriminação de sons, habilidades estas de alta demanda para o ato futuro de leitura e escrita. Podemos considerar tais crianças na categoria de risco, isto é, elas podem vir a apresentar problemas diversos para aprender a ler e a escrever, dentre eles a dislexia.
E como reconhecer a dislexia? Especialistas indicam que se observe alterações de comportamento como a apatia, a desatenção, a ansiedade, a indolência, a depressão e a agressividade. E, uma vez observada a dificuldade de aprendizado, pais e professores devem evitar a cobrança excessiva sobre a criança, pois o comportamento tende a agravar os problemas de aprendizagem. Com as queixas forma-se um círculo vicioso, cujo resultado é um agravamento, mesmo quando a intenção é a de “ajudar”. “Crianças com problemas de aprendizagem precisam de ajuda, antes de qualquer cobrança”, afima Zorzi.
E não vale aceitar da escola uma postura extrapunitiva, de se “queixar” que a criança não está acompanhando o programa e de que possa ser “preguiçosa”, “irresponsável”, etc. Insista num processo diagnóstico que busque identificar o que, de fato, está ocorrendo com a criança que não aprende.
P.S. Vale atentar para as diferenças entre a dislexia de desenvolvimento e a dislexia adquirida. A primeira é um distúrbio de natureza congênita, o que significa que a criança já nasce com certas características de organização e funcionamento neurológico que poderão vir a complicar determinados tipos de aprendizagens, como a leitura e a escrita, caso ela tenha a oportunidade de vir a ser alfabetizada. Já a dislexia adquirida corresponde à perda, em graus variados, da capacidade de ler e escrever em pessoas que já haviam desenvolvido tal habilidade e que poderiam ser até mesmo altamente capazes para tanto.
Sobre o autor
Samantha Shiraishi: mãe, especialista em jornalismo digital e com ampla atuação com mídias sociais e blogs de cultura e comportamento. Mãe de Enzo, 9 anos e Giorgio, 7 anos.
Links: www.samshiraishi.com
FONTE DE CONSULTA: http://www.maecomfilhos.com.br/index.php/2010/05/10/voce-ja-ouviu-falar-de-dislexia-2/
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